no feriadão de Páscoa, fui pra casa dos meus pais e foi quase um retiro espiritual, só que ao contrário. a gente comeu, bebeu, falou mal dos outros e muitas vezes me peguei propagando uma ou outra piadoca politicamente incorreta. não sei se é o clima de cidade do interior no Rio Grande do Sul, onde o cancelamento não passa de um grande mimimi, ou se é só uma desculpa pra não me sentir culpada por me comportar assim.
também não posso dizer que é na casa dos meus pais onde sou eu de verdade, sem filtros. porque em todo e qualquer cenário, todas as pessoas (eu), querendo ou não, interpretam uma personagem. é só começar a prestar a atenção.
com meus amigos sou de um jeito. com minha família sou de outro. no trabalho sou uma chata. aqui nessa newsletter tento ser engraçada. dentro da minha cabeça sou um demônio. e por aí, vai.
a performance não termina, só muda de coreografia.
mas bem, voltando pra casa dos meus pais, onde habitam meu pai e minha mãe, ambos recém-aposentados, duas cachorras idosas e nenhum irmão (graças aos métodos contraceptivos), me vi sendo levada a me comportar igual uma patricinha de mamãe.
e como é bom deixar as pessoas cuidarem da gente, né?
ser acordada pelo pai me chamando pro café da manhã com diversas frutinhas picadas, o chimarrão bem cevado com fofoca no sol, a voltinha no centro da cidade torcendo pra não encontrar nenhum conhecido, não ter que decidir sobre o almoço ou a janta, comer um ovo de páscoa que não tive que pagar, tomar banho cedo, vestir um pijama rosa, um moletom da Gang também rosa, deixar minha mãe pintar minhas unhas da cor… ADIVINHA? rosa! e de quebra ganhar um spa no meu pé que, por herança da minha vó materna e total descuido meu, é seco de rachar.
“veja pelo lado bom, mãe, tu poderia ter uma filha com o pé podre & com o nome sujo no Serasa!”
ainda bem que, apesar de capricorniana, minha mãe tem um ótimo senso de humor. e nós rimos disso, e da série Ted Lasso, e dos problemas das outras famílias, e dos problemas da nossa família, e do nosso retiro “espiritual” que acabou no feriado de Tiradentes, e que me trouxe algumas reflexões enquanto voltava pra realidade, onde preciso picar minhas próprias frutinhas pro café da manhã:
pra nos provarmos adultos, parece que só podemos pedir colo aos nossos pais quando as coisas ficam MUITO ruins. acho que isso já deu o que tinha que dar, né? bora normalizar o colinho de patricinha de mamãe quando não tem nenhum problema acontecendo? BORA!
tá tão fácil colocar a culpa de tudo nos pais, que virou moda reclamar de passar um tempinho com essa galera que, sim, tem seus defeitos (minha mãe não vai concordar com essa frase), mas também pode ser uma ótima companhia. não pra todos os dias, claro, mas um feriadão de vez em quando pode ser muito bom. e não esqueça: pai e mãe também têm vida própria. pergunte antes sobre a agenda dos bonitos e não se meta na casa deles sem ser convidado. às vezes a gente esquece, mas a casa dos nossos pais não é mais a nossa casa.
ah, e pera aí, se teu pai e/ou tua mãe são uns grandessíssimos desgraçados, ignore tudo que escrevi anteriormente e siga com a tua vida
sem paiscom paz e sem culpa. sangue não é água, mas pode ser uma bela fonte de esgoto. e ninguém aqui quer pegar doença de graça, né? xô pra lá, leptospirose!
Goodvibes de ABRIL
A última versão da minha newsletter foi compartilhada por muita gente legal e novos inscritos chegaram por aqui. Sejam bem vindos, tirem a calcinha da bunda sem pudor e não reparem a bagunça!
Fabiane Guimarães abriu uma mini consultoria para assinantes pagos (Tristezas de estimação é tudo de tudo, ASSINEM) e a Camila Marques ministrou o clube das narrativas proibidas aqui em Santa Maria. Dessa oficina, saiu esse texto aqui:
"Na loja de calcinha PPKCHIC, o padre e a secretária da paróquia vendem números para o sorteio da Igreja Católica. Uma moça sai do provador usando somente uma calcinha fio dental vermelha. Padre Luisão, de batina, segura o crucifixo no peito com o corpo duro. Como se nada fosse, cumprimenta a moça e pergunta se ela já comprou um número do sorteio. Pobre Padre! Agarrado ao crucifico como tábua de salvação. Deve ser pecado fazer com que ele continue aqui, pensa a secretária da paróquia se encaminhando para a saída da loja, ao mesmo tempo que o colar do padre arrebenta e o colarinho da batina vai apertando o pescoço dele até que Jesus, Maria, José. CHEGA! O CLT de Deus segue até o caixa com um kit de quatro calcinhas vermelhas pelo preço de três. As moças o encaram, Padre Luisão as encara de volta e o sermão do dia é proferido. Por acaso tá escrito na Bíblia que padre não pode usar calcinha, hein?”
Mudaram as estações e a minha versão vizinha peladona começa a ser substituída pela versão enrolada no roupão felpudo.
Faz dois anos que comprei uma planta e só agora, do nada e depois de perder várias folhas, ela deu sinal de vida. Toda vez que passo pela folhinha bebê crescendo, me pego falando quem é a mimosinha de mamãe??? com aquela vozinha ridícula de amor. Por mais difícil que seja acreditar, todo coração gelado tem uma airfryer própria pra se aquecer de vez em quando.
Badvibes de ABRIL
Gastar dinheiro em oficina mecânica é muito chato.
Momento indireta: pessoas sem noção pedindo coisas que não posso me recusar a fazer.
Não me pergunte por quê, mas acabei caindo (e ficando) no programa da Virgínia no SBT, e tudo que consegui pensar foi: onde vamos parar??? Na newsletter da Laurinha Lero, ela explica do que se trata esse tal de Sabadou com Virgínia:
Deitei na rede e vim de LEITURINHA
De quatro (Miranda July) - combinando direitinho, todo mundo continua transando.
Barba ensopada de sangue (Daniel Galera) - em uma cidade litorânea assombrada pelo inverno, um neto procura pela sombra glacial do avô.
Intermezzo (Sally Rooney) - o tipo de relação entre irmãos que me faz apreciar (ainda mais) meu status de filha única.
No meu rolo da câmera rolou essa foto aqui
O que é a VIDA, Gabriela?
performar até que a morte acabe com o fôlego da coreografia.
Notinha de rodapé
Se tu gosta de poesia, deixo aqui o link do meu primeiro livro. O áspero das faltas foi publicado pela Editora Patuá em 2024.
Pobre do padre, só queria comprar umas calcinhas bonitas
Você me lembrou da primeira vez que a mãe me telefonou no emprego novo, numa redação de jornal — lá se vão 35 anos. No fim de semana, no almoço em família, ela comentou: vocês precisavam ver o Ferdinando ao telefone, todo formal, parecia outra pessoa. 😂