Afetos Ferozes estava na minha lista de leitura desde que fiz um curso de escrita superfaturado da Tati Bernardi em 2020, porque não o encontrava nas livrarias por onde passava o olho, não achava pra baixar nas bibliotecas piratas e o desconto do e-book na Amazon não baixava a ponto de chegar na regra que só posso comprar um livro novo se tiver com desconto igual ou superior a 50%.
(aqui não vamos discutir as problemáticas que envolvem tati bernardi, amazon, pirataria e escritores que não fazem dinheiro escrevendo, ok?)
mãããs, como diria a diva Andressa Urach, o jogo virou e, depois do carnaval, mesmo com a fatura estourada e a expectativa lá na ponta da cabeça da pessoa mais alta do mundo, consegui comprar o livro no precinho.
as informações descritas até aqui importam? não importam, só que ando meio sem inspiração pra escrever e quanto mais enrolo, mais digito e mais me sinto uma escritora sentada em uma cafeteria hipster no Brooklyn.
corta pra realidade: eu, tomando um café Melita (caríssimo), no computador da repartição pública, fingindo escrever um e-mail que mudará os rumos da educação brasileira.
(aqui vamos fingir que é no horário de almoço, ok?)
voltando pro Afetos Ferozes, que nos apresenta a relação problemática entre uma mãe e uma filha (qual relação entre mãe e filha não é problemática???), intercalando entre o passado, onde moravam em um bairro pobre de imigrantes, e o presente, onde as duas caminham e conversam pela cidade de Nova York.
o livro é tão bom quando eu esperava e é carregado daquelas cenas e diálogos super cotidianos e nada simples. lembrou muito de Elena Ferrante, Annie Ernaux, minha avó, minha mãe… e uma das frases que me pegou foi essa aqui:
“Os desejos dela são simples, mas inegociáveis."
porque me vi como essa mulher de desejos simples (na maior parte do tempo), mas que, ao contrário dela, negocio bastante dependendo da vontade dos outros.
por exemplo, esses dias estava indo pra academia e a minha calcinha se enfiou no meio da bunda. quem usa calcinha sabe que essa é uma sensação horrorosa. aí fiquei em uma batalha interna pensando: "meu deus, como que eu vou tirar essa calcinha do cool sem que percebam?", "será que tem alguém atrás de mim?”, “e se algum conhecido passar de carro bem na hora?”, "também tem as pessoas nas janelas dos prédios…", , “se ainda fosse uma fio dental pra acontecer isso”, "caralho, se eu não tirar essa calcinha agora vou me assar". sim, pareço de boas, mas bato muito pino (= penso demais).
aqui a questão nem era sobre trocar uma vontade minha pela vontade dos outros, mas vocês têm noção de que eu estava negociando entre me machucar, literalmente, e o que os outros vão pensar de mim? fica ainda pior quando me dou conta de que “os outros” não existem, afinal, a rua estava vazia e as pessoas estão ocupadas pensando na calcinha enfiada no cool delas e não na minha.
a parte boa de tudo isso é que eu estava lendo o livro no dia que minha calcinha queria estrangular meu cool amigo e, logo depois de pensar todas as abobrinhas citadas acima, me libertei enfiando a mão na bunda, sem olhar pra trás.
evitar assaduras no rabo e ler bons livros, realmente deve ser inegociável.
Goodvibes de MARÇO
Passei o carnaval em Olinda, na casa amarela, e o auge desses dias foi ficar na janela, tal qual uma senhorinha fofoqueira, olhando o povo passar. Também aprendi vários frevos e A MÚSICA do carnaval: “água geladinha, uma é três, duas é cinco”.
O coração do meu pai estava com o pé na cova, mas um procedimento médico deu um grau na vida dele. Meu pai continua comendo torresmo? Continua, mas agora com uma certa folguinha. Sejamos positivos!
As aulas de teatro voltaram e é como se fosse a hora do recreio da vida adulta.
Mesmo não divulgando, alguns amigos me acharam aqui no Substrack e, apesar de me sentir um pouco envergonhada, é massa receber os comentários ao vivo. O mais legal até agora foi: quando recebo tua newsletter, lembro que tá na hora de começar a pagar os boletos (kkkrying).
Badvibes de MARÇO
O ruim de tirar férias é que eu volto pro trabalho totalmente
drogadadesmotivada. Nada, absolutamente nada, tem importância depois de ficar de molho no mar quentinho de Pernambuco.Acho que cantei demais solta a carta, caraio, tigrinho filha da puta no carnaval e o maldito descobriu meu número de celular.
Fazer o papanicolau de rotina e ter que fingir costume.
Deitei na rede e vim de LEITURINHA
As primas (Aurora Venturini) - uma família que é feita de tudo, menos do que se espera de uma família.
Ruína y leveza (Julia Dantas) - as veias que se abrem em uma viagem pela América Latina.
Afetos ferozes (Vivian Gornick) - caminhar no presente é uma volta ao passado.
No meu rolo da câmera rolou essa foto aqui
O que é a VIDA, Gabriela?
descobrir o que é inegociável
e bancar essa descoberta.
Eu vou levar essa referência pra vida. Preciso tirar mais calcinhas da bunda...
sério!! maravilhosa ✨