quando assisto entrevistas com escritoras, finjo que sou uma delas.
se for presencial, ainda não decidi pelo cabelo seco naturalmente ou pelo corte no mesmo dia pra aproveitar a escova e fingir que não sou o tipo de mulher que vai no salão toda hora.
se escolhesse uma sandália ao invés de um tênis descolado, as unhas do pé seriam da cor gótica ou uma coisa mais geração z? de onde tirei que a geração z usa unhas coloridas?
hidratante, prime, corretivo, lápis de sobrancelha, rímel, um brilhozinho meio carnaval, talvez uma ou duas passadinhas de pó de banana pra disfarçar o suor da timidez. aliás, essa timidez também cria bolinhas vermelhas no meu busto. uma blusa fechada até o pescoço e o remédio pra baixar meus batimentos cardíacos cairão bem.
a parte mais difícil deve ser entrar no palco. ou é pior ficar esperando sentada em uma poltrona enquanto as cortinas se abrem? só não dá pra tropeçar e cair. as escritoras devem ensaiar antes.
no palco, me apresento com um “boa noite a todes” ou um “eaíííí galeraaa”? uma piadinha pra descontrair é legal, mas não muuuitas piadinhas. eu quero ser levada a sério, mas, ao mesmo tempo, gosto das conversas que são mais engraçadas do que sérias. talvez eu não seja muito séria, nem muito escritora.
não pretendo mentir que gosto dos clássicos da literatura. também não vou fingir que leio notícias todos os dias, que sou contra o chatgpt ou que evito ser uma grandessíssima alienada. espero não ser cancelada.
assumirei que sou procrastinadora na escrita, porque escrever é bem angustiante. não é bom ou gostoso. invento mil desculpas pra não fazer. passo horas no youtube. limpo toda a casa e, quando a vontade é maior do que a enrolação, não consigo escrever como se ninguém estivesse olhando. a aprovação externa é tão importante quanto o ato de colocar as palavras no word. isso é um saco, eu sei.
mas também vou falar da parte boa. amo terminar um texto e ficar lendo e relendo e cortando as partes desnecessárias. acho que eu daria uma ótima editora. e ler em voz alta também é muito legal. às vezes fico rouca de tanto declamar meus textos pro espelho. pobre espelho.
sem essa de escritores mortos ou internacionais. indicaria as escritoras brasileiras vivíssimas, que tu encontra andando na Flip, meio bêbadas. Mariana Salomão Carrara, Amara Moira, Andrea Del Fuego, Ana Maria Gonçalves, Natália Borges Polesso, Julia Dantas, Carol Bensimon, Ana Martins Marques, Socorro Accioli e até a Tati Bernardi (kkk).
na hora que o público pudesse fazer perguntas, rezaria pra não serem difíceis ou que meu cérebro não me levasse ao frango que esqueci de deixar descongelando. imagina o mico. tenho mania de responder sim quando as pessoas me perguntam algo que não entendo e um dia vou me fuder com isso. espero que não seja em uma entrevista onde pretendo ser escritora, séria e culta.
pior do que não entender a pergunta ou responder uma coisa nada a ver, é a plateia em silêncio. ou quando as pessoas se levantam e vão embora no meio do evento. melhor é ter aquelas luzes bem fortes no palco, que te deixam meio cega, mas pelo menos tu não enxerga os olhos sanguinários dos expectadores.
essa coisa toda passa rápido e quando vê termina. vai ser muito legal ou não. o importante é que eu me divirta e não seja cancelada. vocês já entenderam que me importo muito com o que os outros pensam de mim, né?
talvez queime isso na próxima fogueira do ano novo.
pra terminar, vou fingir que tô sendo entrevistada pelo Bookster (tem coisa mais escritora do que ser entrevistada pelo Bookster???) e vou responder ao pingue-pongue literário do podcast Daria um Livro. Aproveito e já vou treinando!
um livro de cabeceira? a cidade do sol (khaled housseini)
por que você escreve? porque gosto de andar com a galera que escreve
um livro que você gostaria de ter escrito? a mulher que escreveu a bíblia (moacyr scliar)
genero literário favorito? romance
foge de spoilers? só não fujo de fofoca
grandes autores usaram pseudônimos, qual seria o seu? nora tirloni
uma música? todas do charlie brown jr
um filme? a pior pessoa do mundo
uma comida? galinhada com salada de maionese
uma viagem? capão da canoa com as minhas amigas da escola
um livro que, na sua opinião, todo mundo deveria ler? um defeito de cor (ana maria gonçalves)
que livro você está lendo? escute as feras (nastassja Martin)
qual sua próxima leitura? as primas (aurora venturine)
Goodvibes de FEVEREIRO
Casamentão da minha best friend e a primeira vez que fui madrinha de casamento.
A carne de sol, a macaxeira, a tapioca, o axé, o bolo de coco e o queijo coalho de Pernambuco.
Conseguir manter a hidratação nas férias.
Caminhar na praia, no final do dia, de mãos dadas com a longneck de cerveja e o mozão.
Badvibes de FEVEREIRO
Em uma segunda-feira, acordei e não tinha pão. No final da tarde, enfiei o pé em um bueiro e lasquei as duas pernas. Não tem como o dia ser bom se começar sem pão.
Todos os pais resolveram fazer cateterismo ou passar mal ou sofrer tragédias antes do carnaval.
Resolvi terminar essa newsletter hoje: sexta-feira de carnaval, em Olinda, uma casa com mil pessoas que não calam a boca. Se o texto sair ruim, a culpa é delas e não minha.
Deitei na rede e vim de LEITURINHA
Literatura infantil (Alejandro Zambra) - a beleza de ser um pai de primeira viagem.
De onde eles vêm (Jeferson Tenório) - cotas raciais como única solução não é solução.
Os detetives selvagens (Roberto Bolaño) - o fã clube de dois poetas do real visceralismo.
No meu rolo da câmera rolou essa foto aqui
O que é a VIDA, Gabriela?
torrar os ombros pra conhecer uma igrejinha no fim do mundo, sendo que você nem é religioso.
Espero tanto por esses textos gostosos de ler! (❁´◡`❁)