eu tenho muitos medos.
acho que a morte é o primeiro deles. minha morte, a morte dos outros, tanto faz. só sei que toda noite, antes de dormir, tenho medo de não sobreviver. não importa se o dia foi uma merda. se é segunda-feira. se o nariz tá entupido. se tô odiando meus amigos, meus pais, meu passado. antes de dormir, como se tivesse no período fértil, o apego pelo futuro fica no auge.
faço lista das coisas que quero conquistar e meus desejos não são apenas interessantíssimos, como SUPER alcançáveis. só preciso de um pouquinho mais de tempo. uns 40, 50 anos de bônus e que eu sobreviva até o despertador tocar às 7 da manhã. a hora em que o medo da morte é substituído pelo medo de incomodar.
algumas semanas atrás, assassinaram dois professores da universidade onde trabalho. eles estavam em uma viagem de estudos, o hotel foi assaltado, dizem que reagiram, os assaltantes atiraram… uma soma de fatores que nos levaram a multiplicar dias tristes por aqui. um deles foi velado na cidade natal e o outro no salão nobre da UFSM, situação essa que me levou a questionar o seguinte: se eu morresse agora, qual seria o melhor lugar pra fazer o meu velório?
eu não sou daqui, de onde moro hoje. vim só fazer faculdade e, quando vi, já se passaram 10 anos. meu pai, minha mãe e o resto da família vive em outra cidade, onde nasci, cresci, fugi e volto apenas pra passear. não é muito longe, duas horas e meia de viagem, com um posto no meio do caminho que vende o melhor pastel do estado e, mesmo assim, ninguém vem me visitar, nunca. nem na formatura, nem no feriadão, nem se fizesse um festão de casamento. é sempre eu que faço o caminho contrário e é daí que surgiu o questionamento.
se meu velório fosse aqui, será que todo mundo viria ou seria “muita mão”?
imagino uma comitiva cinzenta, onde o luto é esquecido por causa dos infinitos buracos da estrada. talvez fosse mais fácil meu corpo inerte cruzar a BR 158, sem pausa pro pastel e, assim, facilitar a despedida de quem me ama. meu vô tá velho. meus primos têm crianças pequenas. meus parentes são perdidos, é capaz de não conseguirem encontrar a casa mortuária a tempo.
porém, todavia, entretanto, PERA LÁ.
por que eles não podem fazer esse esforço? por que eu, morta, tenho que fazer o caminho contrário pela última vez? eu não valho esse tipo de incômodo?
isso é um desaforo. eu mereço que venham até mim na hora da minha morte, amém.
afinal, não puxo assunto com quem não me interessa só pra deixar o sangue do meu sangue mais feliz? não aguento piadinhas machistas? as sugestões não solicitadas? gente que não paga as minhas contas e quer cagar regra?
então, PORRA. chega disso e chega de me enganar.
aceitar que incomodar é humano e que não sou uma máquina é a minha nova meta (e, pensando aqui, até as máquinas incomodam horrores. não sou eu, o tal alecrim dourado, que vai fazer tudo diferente, não é mesmo?).
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pequena observação final:
falei sobre essas conclusões pro meu companheiro e ele riu. depois, sério, respondeu: não sei porque tu perde tempo com essas bobagens. se tu morrer antes de mim, eu vou decidir tudo e acabou. para de ser doida.
bem, eu não gostaria de deixar esse incômodo pra outra pessoa resolver… mas já que eu vou estar morta, não tem o que fazer. ELE QUE SE VIRE.
Goodvibes de AGOSTO
O livro do meu amigo Fabrício Leão chegou ao mundo e, como fui leitora beta e acompanhei todo o processo de pertinho, me sinto tia e madrinha desse projeto. Por favor, comprem! DESCOLONIZADA é um livraço.
O novo álbum da Liniker.
Está acontecendo a 51ª Feira do Livro de Santa Maria e participei de um encontro bonito (e divertido) com a Geni Nunez. A mágica da literatura não fica só dentro do livro.
Tenho mania de reclamar quando durmo mal, mas dessa vez lembrei de agradecer por estar dormindo bem. Devo isso aos exercícios físicos, a alimentação, a luz baixa e amarela? Tanto faz. Só sei que tenho acordado GRATILUZ com o estado do meu sono em geral. Não tô nem levantando pra fazer xixi no meio da noite. ISSO É UM LUXO, SIM!
Badvibes de AGOSTO
Não sei se é um trauma adquirido pelo book horroroso que fiz quando tinha 15 anos, mas tenho muita dificuldade em tirar fotos minhas. Precisei enviar uma foto decente pra um projeto e foi a parte mais difícil. Escolhi a menos pior.
Um site PODRE de retirada de ingressos cancelou meu pedido sem mais, nem menos e fui barrada na entrada de uma apresentação do Zeca Baleiro. Sabe aquele sentimento de humilhação? Voltei pro dia que fiquei em último lugar no arremesso de peso da olimpíada da escola.
Vi um meme no instagram que dizia o seguinte: se você for pau pra toda obra, toda hora vai ter obra. Realmente, ao invés de ganhar dinheiro, quanto melhor tu faz o trabalho mais trabalho tu ganha.
Deitei na rede e vim de LEITURINHA
Belo mundo, onde você está? (Sally Rooney) - ser adulto é perder-se no meio do “sucesso” dos outros e, às vezes, nunca se encontrar de novo.
Estou feliz que minha mãe morreu (Jennete McCurdy) - existe relação mais complexa (e tóxica) do que uma relação entre mãe e filha?
O perigo de estar lúcida (Rosa Monteiro) - toda arte precisa de um pouco de loucura.
As pequenas chances (Natalia Timerman) - perder um pai e depois se conectar com toda a história que veio antes.
A mulher de dois esqueletos (Julia Dantas) - escolher entre dois universos não envolve apenas duas opções e nem quer dizer que existe vida suficiente pra viver essa escolha.
É melhor não contar (Tatiana Salem Levy) - quantos anos são necessários pra sarar um abuso, um luto e um segredo que não era pra ser segredo?
No meu rolo da câmera rolou essa foto aqui
O que é a VIDA, Gabriela?
aguentar o incômodo dos outros,
tentando não incomodar ninguém.
1. "só sei que toda noite, antes de dormir, tenho medo de não sobreviver. não importa se o dia foi uma merda. se é segunda-feira. se o nariz tá entupido. se tô odiando meus amigos, meus pais, meu passado". Eu, tão eu!!!!
2. Adorei a resposta do seu boy haha
3. Eu amo Belo mundo, onde você está?!